Pouco provável seria que as palavras de Margarida não fossem essas. Se Margarida caminhava pelo estádio ao fim da tarde para se fazer admirar pelos homens suados que jogavam futebol, era claro que diria aquilo. Simplesmente porque sabia o que fazer. Para ela não havia segredos, jogos, segundos sentidos.
De certa forma, para mim também não haveria segredos naquela noite que já ia demasiado longa, que já se transformara em manhã. Digo isto porque se naquela sala horrivelmente escurecida, cheia de pessoas feias e música atroz, houvesse uma mesa de tipo hospitalar e o dono da boca que me falava (sim, era um hálito com dono) sobre ela se deitasse, tirasse todas as suas roupas e alguém me passasse para a mão o conjunto dos seus exames clínicos, eu ficaria igualmente esclarecido. Porque o hálito falante não se poupava a pormenores, todas as suas palavras eram claríssimas e não havia forma de eu não ficar a saber tudo sobre ele e as suas intenções.
Por isso digo que não haveria segredos também para mim. Mesmo que eu não quisesse.
Mas eu tinha um problema. Eu achava que não tinha nascido para entender os homens. Porém, eles próprios faziam por serem completamente óbvios, o que me deixava uma questão. Seria eu que, nalguma espécie de pena bizarra, fazia por esquecer aquela intrínseca simplicidade masculina? Dava-lhes eu esse benefício para não ter como única alternativa desprezá-los?
Entretanto aquela boca falava sempre, eu sentindo o hálito cada vez mais próximo e sem ter ainda chegado a uma conclusão, por mais simples que fosse. Nem pensando em João, em Margarida ou na minha suposta ancestral Júlia Grei. Tenho a certeza que, para ela, o imediato da sensação e do sentimento era o mais importante. Isso angustiava-me. E ia deixando-o falar.
De certa forma, para mim também não haveria segredos naquela noite que já ia demasiado longa, que já se transformara em manhã. Digo isto porque se naquela sala horrivelmente escurecida, cheia de pessoas feias e música atroz, houvesse uma mesa de tipo hospitalar e o dono da boca que me falava (sim, era um hálito com dono) sobre ela se deitasse, tirasse todas as suas roupas e alguém me passasse para a mão o conjunto dos seus exames clínicos, eu ficaria igualmente esclarecido. Porque o hálito falante não se poupava a pormenores, todas as suas palavras eram claríssimas e não havia forma de eu não ficar a saber tudo sobre ele e as suas intenções.
Por isso digo que não haveria segredos também para mim. Mesmo que eu não quisesse.
Mas eu tinha um problema. Eu achava que não tinha nascido para entender os homens. Porém, eles próprios faziam por serem completamente óbvios, o que me deixava uma questão. Seria eu que, nalguma espécie de pena bizarra, fazia por esquecer aquela intrínseca simplicidade masculina? Dava-lhes eu esse benefício para não ter como única alternativa desprezá-los?
Entretanto aquela boca falava sempre, eu sentindo o hálito cada vez mais próximo e sem ter ainda chegado a uma conclusão, por mais simples que fosse. Nem pensando em João, em Margarida ou na minha suposta ancestral Júlia Grei. Tenho a certeza que, para ela, o imediato da sensação e do sentimento era o mais importante. Isso angustiava-me. E ia deixando-o falar.
1 comentário:
Complexo, forte, angustiante. Mais uma parte extraordinária. Gostei imenso da nova referência à Margarida e do conflito entre o segredo e a revelação. Gostei da cena hospitalar a cortar o mistério do dono do hálito. Achei tudo fantástico mais uma vez.
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