sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Rêverie occidentale

Et du coup j'étais dans le train. A ver o mar.

O vapor que se eleva da caneca de café. Crêpes Nutella quase caseiros. "Não gosto de Nutella." Come com banana, pior para ti.
- C'est atroce ! dizia Caroline e eu contentíssimo por ouvir essa expressão de novo. E o Nicolas que me abraçou. Cheguei a perder-me na conversa, mas não me importava. E que disseste tu, Victor? C'était surtout un plaisir? Estava tão imbuído de tudo, tão boulevard Haussmann, que lamentei não te conhecer melhor.
E deu-me a melancolia.
Ficar na cafetaria numa manhã que lá fora estava cinzenta. Ficar à conversa acompanhado de um café crème e de dois croissants. Falar, falar, de tanta coisa. E tudo a saber-me tão bem.
Tive pena de não ter uma flor para deixar na campa de Delibes, de Thomas (e de Adam, se o tivesse procurado). Agora parece parvo, mas naquele ambiente apetecia. Ficamos cheios de respeito e de admiração.
Saint-Lazare. Tudo. Parar na boulangerie para comprar beignets. E macarrons! Vamos provar macarrons!
Um restaurante italiano perfeito. Comida caseira em Bagnolet, num appart muito francês: "está a saber-me mesmo bem". Ficar sentados a apanhar sol e frio. Ou jantar japonês em Edgar Quinet. Ou ver um filme.
E eu triste por sentir falta de tanta coisa. Todas as conversas sobre tanta coisa, sobre coisas que foram. E o risos. E os risos.

- Je prends un café crème et un croissant, s'il vous plaît.
E sentei-me de frente para os vidros, também com um sumo de laranja pressé (nota mental: para a próxima de lata, já que se paga o mesmo, estúpido, não me voltas a enganar) e um autor comunista. Lá fora os aviões e o cinzento.
Et du coup j'étais dans le train. E a perguntar-me porque não fazia isto mais vezes. E a praia tão agradável.

"Aux Galeries La Fayette !
Courrons y faire emplettes !"
(Três raparigas na opereta Pas sur la bouche, acto I)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

some perfectly beautiful verse

A pedido de várias famílias (miss Laura, diria Sebastianito Guerreiro, já que andamos numa de O Cais das Merendas), algumas palavras.
Vão-me saber tão bem uns dias com as viajadas, uns dias sem obrigações, sem ter de pensar que tenho algo para fazer. Claro que não deixo de ter que fazer, mas isso fica tão longe, que nem me importa, por enquanto. Hoje devo estar redundante, acho que tem vindo a acontecer com alguma frequência. E viva o alojamento (quase-)gratuito!
Quanto ao que se tem passado... Merecia alguma reflexão, algumas palavras bonitas, decerto. It has been a pleasure.

"I met this perfectly marvelous girl
In this perfectly wonderful place"
(Sally no musical Cabaret, acto I)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

untitled - intro

Ali estávamos, sentados na areia, enterrando os pés e levantando-os em seguida para ver os grãos (escaldantes à superfície, mais frescos por baixo) esvaírem-se por entre os dedos.
Ali estávamos, naquela perfeição estival, porque perfeito é o adjectivo correcto a aplicar a tal contexto. Parece que nada falha durante as horas que estamos no areal, só nós, o areal, o sol e o mar, tudo o resto deixado de fora, olvidável.
Tudo é calmo e placidamente feliz. Diocleciano dizia que a praia tinha qualquer coisa de beatífico. Todos se riam muito, mas sabíamos ser verdade, ainda que talvez não naquelas palavras.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

j'irai seul

Há dias em que a Biblioteca Nacional de Portugal (née de Lisboa) fica o caos porque o sistema informático assim o decide, numa de "vamos voltar ao antigamente, ao manual".
Há dias em que de manhã falas com uma pessoa em Lisboa e à noite ela está a falar contigo de Rouen. Amanhã, nova partida. E ainda não sabes o que vais fazer das saudades. Beijinho especial para a mais recente habitante de Bagnolet, leitora das mais regulares, e claro, para a Miss Mars.

Um dia de cada vez. Por agora não tenho imaginação para o fazer de outra forma.

"Je me souviens... La ville était en fête..."
(Gérald na ópera Lakmé, acto III)