Ainda estou a ver Flávio Varzim. Alto, os ombros largos, o sorriso fácil e por isso encantador. O bronze impecável. Ainda o vejo, passeando pela praia, com os seus calções de banho. Azuis. Justíssimos.
Todos os adoravam, todos lhe queriam falar. Rapazes e raparigas. Por isso, o facto de ele me querer a mim dava-me particular satisfação.
"Miúda", dizia-me ele. Ainda o ouço chamar-me. "Miúda". Com o sorriso que eu achava ser o mais bonito do mundo. E estendia-me a mão. Estendia-me a mão enquanto nós ficávamos estendidos no areal, horas a fio. "Sou doido por ti, miúda." E eu sorridente, calava-me. Flávio Varzim, o rei da praia, gostava de mim e eu gostava dele. Fechava os olhos, naquelas tardes alaranjadas, quando o sol começava a sua rota descendente, sentindo Flávio ao meu lado. Sentindo e ouvindo. Flávio Varzim adorava falar. E se sobre ele, ainda mais. Daí que não desdenhasse nem a atenção, nem a paixão que rapazes e raparigas daquela praia lhe devotavam, prontos a beber-lhe cada palavra. As raparigas cada vez com um ar mais aparvalhado, os rapazes tentando encontrar uma posição que lhes disfarçasse a erecção. Ou que desesperadamente lhe tentavam tocar quando nadavam ou jogavam à bola.
Mas eu sabia que, em eu aparecendo, Flávio Varzim olharia para mim e tudo nele sorriria, a fremente corte relegada para segundo plano. "Chegaste, miúda..." Despedia-se apressadamente de quem com ele estava, se se chegasse a despedir. Levantava-se de um salto, esticando os ombros largos, e chegava-se a mim.
"Ainda bem que chegaste. Estava à tua espera, miúda."
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