Não consigo deixar de encontrar alguma beleza delicada nesta história, nem que seja pela ingenuidade. Os diálogos são, na grande maioria, elementares, coisas que só aos dezassete anos alguém acharia possível dizer. Mas há um sentido de drama, de estrutura. A história de Tomás e Leonor é aquela que se destaca, pela sua qualidade ligeiramente superior. É também ela que motiva um digno fechamento dos três actos. No primeiro, a complicação da situação com Tomás a escrever a Leonor ao mesmo tempo que recebe uma carta de Maria Teresa. No segundo, a fuga de Tomás e Leonor e o que tem Miguel a dizer acerca disso. A cena em que Leonor procura Tomás no baile e depois aquela em que se declaram um ao outro têm o seu brilho. É possível fazer algo deles?
A história de Pedro e Carolina torna-se muito secundária, limitada a uma sucessão de cenas espaçadas em que ele se tenta dela aproximar e ela, com toda a ligeireza, o vai afastando e aproximando. O encanto de Carolina também estava aí e é claro que ela sabia fazer uso das suas habilidades. Ela sabia até onde podia ir. Lia os outros muito bem, especialmente o efeito que neles tinha e agia em conformidade. Enfim, nem sempre. Sabe-se que o fim da relação com o outro Pedro foi um golpe duro. Não totalmente inesperado, mas ainda assim duro. A sua dor foi genuína, tal como também andava já encantada por um certo médico do Chiado chamado Pedro. Não se podem negar os sentimentos de Carolina. Há é que saber conjugá-los com um ligeiro calculismo, um distanciamento nem sempre voluntário, que lhe surgira algures ao crescer na casa da magnólia. Teria sido no ar da casa? Na educação recebida? Pois Tomás partilhava dessas características. O ímpeto e o gesto dramático viviam paredes meias com um atento olhar sobre as situações. Só isso explica a fuga para Paris, sabendo o que isso causaria.
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