sexta-feira, 11 de abril de 2014

São Quintino - Rita

Rita afastou-se da janela aberta e sentou-se na cama. O quarto estava relativamente fresco naquele início de tarde e Rita reclinou-se. Da rua, praticamente nenhum ruído. Ouvia-se, de quando em quando, um latido longínquo, uma voz.
Estava certa, devia ser aquilo, mas não... Sentia-se mole. O que a fazia tremer, o que a deixava insegura... Sentia-se entediada. Ouvia a mãe cantar em baixo.
Queria fechar os olhos só para não ter de os fixar febrilmente em todos os pontos do quarto. Sem sucesso. Com a mente, desenhava contornos, concentrou-se depois nos detalhes, tentando ser precisa em todos eles. E a voz de alguém que passava na rua calma. A mãe que cantava em baixo. E Cristina, onde estava? Sim, era assim o sorriso. E a voz... Temeu não conseguir lembrar-se. E as mãos...
Rita estendida na cama e a cabeça tão confusa. Uma sensação estranha na barriga, uma vontade de gritar. De correr até... Imaginava como seria aproximar-se e dizer qualquer coisa, sem saber que coisa dizer. E as suas mãos que tremeriam agarrando-se.
O campanário dolente deu as três, despertando Rita do seu torpor. Despertou-a, não a fez esquecer-se de José. José, o povoador de pensamentos.
Rita admitiu para si mesma que estava apaixonada.

Sem comentários: