domingo, 27 de maio de 2012

Hotel na areia 13

Dói-me. Eu quero reter a imagem dessa tarde feliz, a tarde que se seguira à manhã passada na cama, a cama onde eu lhe pudera sentir na boca o sabor da manteiga das torradas do pequeno-almoço. Tal como essa tarde luminosa e fresca se sobrepusera à manhã de chuva, eu quero que a imagem dessa tarde se sobreponha à lembrança dessas quentes noites lisboetas em que eu sonhava pelas janelas abertas. Angustiava.
Nessa tarde fresca e feliz, ele falava muito, eu falava muito. Éramos bonitos juntos, todo aquele dia era beleza. Ele vestira um pólo branco de mangas curtas eu não deixara de reparar como, com os óculos escuros da moda e o sorriso branco e saudável, parecia saído de um anúncio. Todo aquele dia era beleza.
Mas se ele falava muito, não ousara ainda dizer o que queria dizer. Limitava-se a sentir e a satisfazer-se com o que sentia, com o meu sorriso e as minhas palavras saídas de uma banheira solitária.

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