segunda-feira, 21 de maio de 2012

Hotel na areia 11

Algo dói em mim quando penso nessa tarde na costa do granito rosa. Tudo tinha um ar lavado devido à forte chuva que caíra. O céu não estava limpo, apenas o suficiente para nos lembrar que sempre era Verão. O Verão mais húmido de sempre, sobretudo quando tínhamos deixado uma cidade que abafava e, em nossa casa, nem uma brisa entrava pelas janelas abertas. A tarde estava luminosa e fresca. Ele conduzia (algo que nos dias anteriores me deixava desconfortável) e levava parte da cara escondida pelos óculos de sol da moda. Conversava muito, todo bem disposto, eu olhava para ele e só via os dentes brancos felizes e os óculos de sol que faiscavam naquela tarde luminosa depois da chuva. Eu não podia deixar de sorrir perante esse quadro. Naquele automóvel, a felicidade era um corpo. A estrada costeira serpenteava à nossa frente, o mar acompanhava-nos pela direita e eu sorria, enquanto discutíamos as informações do guia em grande galhofa.
Eu pensava em como tínhamos chegado ali - como é que de um encontro num cinema das Avenidas Novas fôramos parar a uma estrada costeira na Bretanha.
Já referi que durante alguns dias após o primeiro encontro não o voltei a ver. Já percebeu que todo eu era embevecimento, mas tive medo de forçar novo encontro através das tais amizades comuns. Ainda divaguei acerca dele junto de um amigo ou dois, mas estava disposto a render-me ao ritmo dos acasos e dos desencontros; não contava vê-lo, ainda que gostasse da ideia.
Creio que passaram duas semanas até que encontrei na rua uma amiga que dele vinha acompanhado. Sei que me juntei a eles e no final desse dia o estudante de Desenho me deu o número, dizendo que gostava me voltar a ver.
Eu bem disse que o destino fora comigo complacente.

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