No dia seguinte, quando acordámos, chovia. Era uma chuva compacta e interminável que mal deixava ver a areia da praia do outro lado da rua. Naquela manhã não haveria praia.
Eu acordei primeiro - eu acordava sempre primeiro, evitando ser surpreendido. Quando me apercebi da chuva, cheguei-me a ele, ao seu corpo quente. O quarto tinha pouca claridade, era tudo sombra. A calma era tremenda, mas apetecível. Havia o burburinho permanente da chuva e, para além dele, alguns passos no corredor ou a água que começava a correr de uma torneira noutro quarto.
O quarto, a chuva e nós na cama.
Aquela não era a primeira manhã de chuva que partilhávamos na cama. Não, a primeira fora mesmo há já o que parecia ser uma eternidade.
Tinha sido algum tempo depois de nos conhecermos. Ele vivia numa casa partilhada nessa altura e lembro-me que de manhã o quarto estava cheio de uma luz cinzenta porque chovia do mesmo modo implacável. Mas não havia ali qualquer tristeza. Lembro-me de ele ter desaparecido para a cozinha, onde preparou o pequeno-almoço. Eu saí do quarto para ir à casa de banho, voltei e enfiei-me na cama, olhando a janela e ouvindo os ruídos de loiça a ser colocada numa bancada e torradeiras que estalavam. Porque a casa era partilhada e o nosso acontecimento recente, nesse dia ele trouxe-me o pequeno-almoço ao quarto. (Algum tempo depois passaria a comer as torradas na cozinha.) Também por ser recente ele tentava impressionar-me com aquele gesto. Não que ele precisasse de fazer o que fosse para me impressionar, bastava-me vê-lo entrar pela porta do quarto iluminado por uma luz chuvosa. E ele entrou, com um tabuleiro cheio de comida.
Fomos comendo e ficando por ali. E como tudo era tão novo e tão bonito... E como estava tanto frio e chovia tanto, mas não havia problema nenhum. Tínhamo-nos um ao outro e naquele quarto de casa partilhada, isso bastava.
Naquela manhã chuvosa de praia, depois de ele acordar deixámo-nos ficar na cama a conversar e a sorrir. Descemos para o pequeno-almoço e, depois disso, voltámos para o quartinho. Depois do almoço parou de chover. O ar estava fresco e o cheiro a mar era particularmente forte. Metemo-nos no carro e fomos explorar a costa de granito rosa, de guia na mão, máquina fotográfica e tudo.
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