terça-feira, 5 de outubro de 2010

Crónica lisboeta: Pedro e Carolina

Lembrei-me de Pedro Vasques, o médico do Chiado, não tanto pelas suas particularidades, mas pela singular mulher que tomou como sua, Carolina.
A história de Pedro e Carolina começou em 1925 e os seus episódios primeiros foram de uma doçura comovente. Conheceram-se num baile de máscaras dado no palacete que a viscondessa de Lima Campos tinha no Campo Grande.
Nessa noite ela estava comprometida com um outro Pedro, que não a acompanhara. O Dr. Vasques sentiu-se irresistivelmente atraído por aquela beleza, aquele cabelo ruivo, pelo ar tristonho dela. E arriscou falar com ela, num momento em que ela fixava absorta o conteúdo da sua taça de champanhe.
Foi bonito, com a música da banda servindo de fundo à troca de palavras. A abordagem do médico não foi a mais brilhante, facilmente atrapalhável, tendo sido tosco ao ponto de juntar a palavra "médico" no momento de dizer o seu nome. Isso bastou para que ela lhe começasse a chamar "doutor", algo que nunca deixou de fazer. Ela gostou do galanteio, daquele ar meio ingénuo.
É arrepiante pensar que ao fim de poucos anos de casamento, Carolina se apercebera de como Pedro era medíocre. E como se operara nele tanta mudança, ele que antes de a conhecer a ela e à sua espontaneidade, tivera o choque de arranjar uma noiva suicida?

Sem comentários: