sábado, 9 de outubro de 2010

O observado

Passa com o seu passo confiante e de não-quero-saber. Passa com o seu passo e é claro que atrai olhares quando passa, pelo menos um. Quando passa ao longo da sala, por entre as mesas, em direcção ao seu lugar - sempre o mesmo.
O que chama primeiro a atenção é esse passo desempenado quando passa e a roupa, sempre impecável, escolhida para atrair. (Tem de ser para atrair.) Isto para depois se reparar no corpo dentro do vestuário à medida. Depois na cara, enfim.
Claro que passa e atrai olhares. Claro. Pelo menos um.
Não é claro, mas parece quase natural que de tanta gente naquela sala, apenas fale com uma pessoa - sempre a mesma. Só uma. E que fume sozinho na varanda. Porque fuma sozinho na varanda, deixando que os vidros lhe permitam ser observado?
Claro que fuma sem olhar para o interior da sala. Assim como é claro que passa passando, sem olhar, sem querer saber, muito senhor de si, revelando cada dia como o seu guarda-roupa é interminável e tem todas as combinações possíveis e pensadas. Claro que há dias em que passa com a barba por fazer, para atrair olhares, tal como é claro que nem sempre tenha os óculos postos quando passa. Para atrair olhares. Pelo menos um.
Gostaria ao menos de saber se a confiança lhe passa do corpo para a roupa ou da roupa para o corpo. Porque enfim, se passa... Que passe, que passe.

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