terça-feira, 14 de julho de 2009

L'amant

Uma manhã de chuva, daquelas que entram tristes pela janela. O céu a oscilar entre o cinzento e o lilás. A luz que entrava fraca e fria, que quase nem parece luz, daquelas que enchem a manhã de tristeza e fazem apetecer mais o calor da cama.
Despertava. Ouviu o som da água a correr no compartimento contíguo e enrolou-se nos lençóis em busca dessa tepidez da cama. O som da água a correr que era tão triste, assim como a alcatifa castanha do chão, o papel de parede amarelado, a mobília escura de traços simples e a manhã que entrava pela janela (o outro tinha aberto as cortinas um pouco).
Por momentos só conseguia pensar na tristeza de tudo, na escuridão da manhã e em como tudo aquilo o deixava tão lasso. E a água que corria.
Pensou na pertinência dos acontecimentos, na sucessão das coisas. Porque tinha o início tanto calor e tanta febre. Porque tinha o fim a tristeza de uma manhã de Outubro em que as rodas dos veículos espalhavam com ruído a água das poças. Bem, pelo menos até ao próximo início, que na melhor das hipóteses seria na noite seguinte.
Era assim que tinham planeado.
(Mas a tristeza da brevidade permanecia - pelo menos para ele que ali estava estendido na cama - presente nos sons da água que corria, nos gestos de apertar o cinto ou arrumar os óculos na cara.)

1 comentário:

Anónimo disse...

Apesar de não estar a chover lá fora, de o quarto até não estar muito sombrio, apesar de não haver água a escorrer na divisão do lado (infelizmente?), hoje é um desses dias em que não apetecia sair da cama.
O cansaço de 7 exames, a caminho dos 8, pesa, e eu cheia de saudades de ti, e de ter tempo para um dos nossos encontros de faladores natos.
E a cabeça toda confusa com os assuntos do coração...

Beijinho grande! :)