quinta-feira, 9 de julho de 2009

Notas para Diocleciano

Reconheci-lhe logo uma propensão para o exagero. Talvez um pouco como Diocleciano. Que vestia calções de banho de cores garridas e gostava de dar as suas tiradas sarcásticas.
Naquele dia os calções eram verdes, verde-relva, e Diocleciano enterrava os pés na areia para se surpreender em seguida com a beleza das suas formas, num acesso de narcisismo.
Diocleciano que, no seu à-vontade e despreocupação (mas tão adorável, tão inocente), se deixara surpreender pela instabilidade emocional. Por um interior a revolver-se em questões e vontades. Que nem uma Tatyana.
Deitado sobre a toalha, os olhos fechados e o sol aquecendo-o. Todo aquele quadro de placidez e calor que não deixava adivinhar o turvo interior.
No final do dia, Diocleciano estava morto. Ainda não sei bem como.

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