terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Hotel na areia 3

Aqueles momentos na praia estavam, apesar de tudo, repletos de um grande erotismo. Pelo menos, eu sentia-os como tal. Talvez apenas eu.
Enquanto eu permanecia meio vestido na toalha, com os olhos postos num livro ou na linha da água, ele entregava-se aos prazeres da água fria e salgada.
Ele era bonito, tenho de o dizer. Tinha uma cara agradável, os olhos grandes que primeiro me tinham cativado. Uns olhos que sorriam com a boca. Ou que antes tinham sorrido com a boca. Naquela praia eram apenas grande e com círculos negros em redor. É verdade.
Mas continuava bonito e o seu corpo bem feito. E na praia usava sempre uns calções de banho vermelhos e justos, o que - em conjunto com a sua pele morena - criava um verdadeiro regalo para a vista naquele areal. O quadro era de uma beleza bastante sensual.
Eu ficava a observá-lo enquanto ele se afastava para ir até ao mar, o conteúdo tonificado dos calções de banho caminhando em toda a sua perfeição. Eu queria reter aquela imagem, se possível pará-la para meu deleite pessoal. Se possível, com o ruído das ondinhas que vinham bater contra a praia. Se possível.
Também porque aquela beleza evocava tanta coisa e também elas belas.
Depois do mar, voltava para junto de mim e aí podia vê-lo novamente caminhar, agora na minha direcção. Os calções vermelhos colados à pele morena. Acima dos calções, uma pequena seara de pêlos que ressurgia depois para cobrir levemente o peito.
Aí, eu tinha de sorrir, mesmo que não quisesse. E sorria-lhe enquanto ele se deitava ao meu lado coberto de gotas.
Eu sabia que nada daquilo era encenado. Antes fosse. Saber que tanta beleza, tanta simplicidade, tanto corpo, eram reais - naquela praia de desespero - entristecia-me. Sobretudo que eles de mim pediam apenas uma coisa.
Há muitas coisas que não sei, que nunca saberei explicar.

Quando saímos da praia, não resistia. Caminhávamos lado a lado e a minha mão estendia-se para alcançar a dele. E era assim que íamos até ao hotel, ao nosso quartinho. Juntos.

1 comentário:

Ana disse...

Nem era preciso anunciares o erotismo da cena porque sentia-se em cada palavra que se seguiu. Isto foi um misto de triste e escaldante. Estou a ficar perturbada. Os calções agarrados, as gotas no corpo, o nada ser encenado, a mão que se estende para ele quando vão para o quarto, o sorriso - tudo é tão... Falta-me o teu vocabulário para o dizer numa palavra, portanto serei simplista: perfeito.