Quase todos os dias, descíamos à praia e, na maioria das vezes, eu não saía da toalha. Todo aquele cinzento arrepiava-me. Mas ele não. Ia sempre até ao mar, parecia ser o momento em que vivia de novo e em pleno. Andava por lá feito cão, todo contente, e o meu pesar não desaparecia.
Aquela visão feliz fazia-me sorrir e eu tentava, juro que tentava, repescar uma ligação entre aquele sorriso e um sorriso antigo, um sorriso que também fora produto meu. O aperto no peito que aquele feliz momento canino me provocava.
Na verdade, não parecia que houvesse algo mais para sentir do que apertos no peito. Como aquele da chegada, mas mesmo esse fora diferente. Estando o hotel praticamente vago, fora fácil conseguir um quarto virado para a frente, para a baía - os nossos dias passavam-se irremediavelmente nessa terrível baía, dentro dela, olhando para ela, tudo nela.
O quarto não era muito grande, mas tinha a sua graça. A mobília vinha claramente do passado e de todos os objectos e tecidos se desprendiam o odor da humidade. Aproximei-me da janela e olhei para o exterior através dos vidros marcados pelo sal marítimo; por trás de mim, ouvi-o a mexer em malas, a abrir gavetas e armários, numa fúria arrumadora. Não me sentia capaz de o olhar e todo aquele afã começava a causar-me uma pequena raiva. Sentia-me prisioneiro e a minha raiva parecia querer forçar umas lágrimas. Antes que isso acontecesse, abandonei o quarto sem dizer nada. Sem sequer o olhar nos olhos.
Não, o aperto à beira-mar era diferente. Perante aquela alegria marinha, eu sorria triste.
Aquela visão feliz fazia-me sorrir e eu tentava, juro que tentava, repescar uma ligação entre aquele sorriso e um sorriso antigo, um sorriso que também fora produto meu. O aperto no peito que aquele feliz momento canino me provocava.
Na verdade, não parecia que houvesse algo mais para sentir do que apertos no peito. Como aquele da chegada, mas mesmo esse fora diferente. Estando o hotel praticamente vago, fora fácil conseguir um quarto virado para a frente, para a baía - os nossos dias passavam-se irremediavelmente nessa terrível baía, dentro dela, olhando para ela, tudo nela.
O quarto não era muito grande, mas tinha a sua graça. A mobília vinha claramente do passado e de todos os objectos e tecidos se desprendiam o odor da humidade. Aproximei-me da janela e olhei para o exterior através dos vidros marcados pelo sal marítimo; por trás de mim, ouvi-o a mexer em malas, a abrir gavetas e armários, numa fúria arrumadora. Não me sentia capaz de o olhar e todo aquele afã começava a causar-me uma pequena raiva. Sentia-me prisioneiro e a minha raiva parecia querer forçar umas lágrimas. Antes que isso acontecesse, abandonei o quarto sem dizer nada. Sem sequer o olhar nos olhos.
Não, o aperto à beira-mar era diferente. Perante aquela alegria marinha, eu sorria triste.
1 comentário:
Meu Deus! Honestamente, fico sem palavras. O que num curto texto fazes sentir é incrível. Eu simplesmente adorei o momento na praia. E o mais interessante é que imediatamente nos identificamos com o sentimento descrito. Quando a visão sobre as coisas mudou e já nada se sente da mesma forma, mas enquanto que há momentos como o do quarto em que nos vemos já sem forma de lidar com aquela pessoa familiar, há também outros em que essa noção causa melancolia e nostalgia. E mais uma vez, a maneira como colocas as emoções no espaço é arrepiante.
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