quarta-feira, 22 de junho de 2011

Como nos filmes

Ele queria muita coisa, pois queria. Ele dizia que faria isto, que faria aquilo, que faríamos tudo. Tudo, uma fartura. A própria prosa que lhe saía da boca e dos dedos era balofa, transbordando de fartura, expressões rebuscadas que lhe caíam da boca como de uma tigela cheia (muitas que já tinham caído em desuso), complicadíssimas adjectivações, uma tentativa de casar Bernadim Ribeiro com Júlio Dinis. Para recreação própria e para encher os ouvidos e os olhos dos outros. De tanta fartura, havia uma imagem - no meio de tudo o que ele queria, de tudo o que ele faria - particularmente sedutora. Talvez pela simplicidade, que destoava no meio de toda a gordura verbal. Ele que queria tanta coisa e exprimia os seus desejos através de frases impossíveis, soubera juntar meia dúzia de palavras simples e criar uma ideia impregnada de belo.

Isto até ter descoberto que essa imagem repleta de beleza e simplicidade a tinha ido buscar a um filme, omitindo a origem. Percebi logo que era aquela a sua fonte para a única coisa que lhe saíra a direito da boca. Uma pena. Um choque digno de Tatyana Larina que descobre a personalidade de Onegin dispersa pela respectiva biblioteca.
Pois, também recorro a referências. Não lhes omito é a origem.

1 comentário:

Luísa A. disse...

Como me faz lembrar alguém. Captaste imensamente bem este tipo de pessoas.