quinta-feira, 23 de junho de 2011

Como nos filmes - o outro lado

Junto à máquina de café, a galhofa era muita. Até que se aproximou alguém que me perguntou:
- Quanto é que custa o café nesta máquina? - E baixou os óculos escuros.
Olhava-me. Estava lançado o momento. Até já lhe estava a ouvir a música.
- Três e... Ah, não, trinta e cinco cêntimos!
Riu-se, olhando-me com uns olhos expressivos que sorriam com a boca.
- Três e...? O quê, cinco? - Os olhos eram grandes e tinham sido descobertos de propósito para me ver melhor (eu sei). E, sobretudo, para me sorrirem. Tudo era generoso naquela pessoa e eu só via os olhos e o sorriso. Apetecia-me gritar por tudo ir tão bem, tão desenhado.
A minha atrapalhação, também parecendo de propósito, não cessava. E os olhos bonitos que tinham propositadamente começado aquilo, riam a cada coisa. Gritar, gritar, gritar. Mas eu sorria apenas, muito, enquanto esperava pelo meu café.
Tantos gritos dentro de mim.
No fim, passando, ainda me sorriu de novo e acenou. Ah.
E pensei de imediato em Solange Garnier que chega a casa e diz à irmã:
Je viens de rencontrer l'homme de ma vie.

1 comentário:

Luísa A. disse...

Os estranhos de café caro precisam voltar. Adorei ler este momento!