terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Tarde de sol

- Anda, vamos passear...
E fomos. Seria uma pena não aproveitar aquele sol de Inverno que praticamente nos implorava que o tomássemos como companheiro para depois da refeição. Fomos e até saímos duas estações de metro antes para mais depressa respondermos a esse pedido.
Caminhámos sob essa luz benéfica, falando, falando sempre, que é uma das coisas que fazemos melhor. Fomos até uma varanda que a cidade tem sobre o rio. Tentei encontrar entre a neblina a baía do Seixal.
- Sabes, ali há um passeio ao longo do rio, tudo ajardinado, com uns cafézinhos simpáticos...
Porquê esta obsessão com a informação? Não poderei passar sem lançar um conjunto de referências?
Decidimos continuar, ir mais para cima, até S. Pedro de Alcântara. Aí estávamos à sombra, o vale da avenida a nossos pés. De onde vem esta apetência para os grandes panoramas? O que é certo é que a vista era boa e condizia com a nossa paz. Olhando para esses sucedâneos do vazio, visitávamos as bases, as concertações da nossa amizade. Fazíamos planos.
- Havemos de ir ali, à Graça... Havemos de meter-nos num comboio e ir até...
Deve ser esse o segredo dos grandes panoramas e da afeição que suscitam: pelo espaço que contêm, os olhos encontram lugar para esvaziar as mentes. Para que fique apenas o essencial, mesmo que o essencial seja uma mera certeza, uma confiança partilhada. Entre nós e com a cidade, para que seja nossa aliada. Para que ela, rodeada de sol e de rio, nos conserve.

1 comentário:

Luísa A. disse...

A descrição deixou-me nostálgica. Gostei do comentário da obsessão com a informação, embora seja sempre bem-vinda. E gostei imenso da relação do panorama com a conversa e os planos. É sempre tão bom ver como tornas os pequenos bons momentos em retratos tão pitorescos. É quase como um quadro impressionista. Sempre cheios de cor e paisagens bonitas, que se vêem melhor à distância. É mesmo algo que adoro na tua escrita. E venham de lá essas viagens.