segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O quarto, o saguão e a chuva

Mesmo antes de abrirmos a porta e entrarmos, eu sabia que havia uma felicidade latente em todos os objectos, prestes a ser feita verdade.
Havia um quarto, nada mais. Um quarto e lá fora um saguão e o céu cinzento. Um quarto que nos pedia que fossemos dele. Se desligar as luzes para escrever, mais depressa me revejo na sua penumbra. Em tudo uma espécie de perfeição, mesmo no estampado da roupa da cama, na não-vista da janela, sobretudo na penumbra. O cenário de tão inaudito era incrível e ele bastava para que eu quisesse ser invejado.
Só por isso, porque dava vontade de uma pessoa se sentar no chão e verter lágrimas; um gesto simples e primitivo, só porque era tudo tão perfeito. Estarmos deitados na cama não era mais do que completar essa perfeição.
Ainda que chovesse durante a noite e de manhã, tudo era bom e bonito e o quarto bastava-se a si próprio, sobretudo pela sua penumbra. Porque das paredes (ao ponto de uma pessoa se querer sentar no chão e verter lágrimas) em vez de algum fungo provável, era amor que brotava. Por isso, tudo era bom e essa etiqueta punhamos, generosos, em cada coisa.

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