sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O primeiro pronuncia-se

Estou aqui, mas não vai acontecer nada. Lamento. Pode parecer contraditório com a minha presença aqui, mas não é - tinha de vir dizer-lhe isto.
E se digo isto com a chávena de café girando entre os dedos é porque não é fácil vir aqui dizer-lhe isto. Mas sim, tinha de o fazer. Está a rir-se de mim.
A minha condição não me torna capaz de resistir à desconcentração, não tenho esse dom. Quando cheguei ao mundo, já tinha escrito em mim que na escola primária com dificuldade não olharia para os cartazes e toda a papelada e bonecada afixada nas paredes. E que depois, no liceu, seria a janela o meu quadro preferido. Pelo cordão umbilical chegavam-me os nutrientes e esta apetência para a desatenção.
Ri de novo, claro. Contudo, já deverá ter percebido que foi essa companheira de nascença que motivou toda esta situação. Que é essencialmente por causa dela que aqui estou.
Também porque valorizo atitudes como a sua. E até lhe digo mais: estava em casa desocupado e furioso com a vida. Assim, tout simplement. E pensei que mais valia vir aqui dizer-lhe isto. Se não o fizesse ficaria a pensar, a pensar, a pensar, a imaginar, como é próprio de uma pessoa desenhada como eu. Não me parecia ser essa uma boa opção, até porque chovia, e assim é da maneira que corto a imaginação e as fantasias por onde devem ser cortadas.
Porque não pára de me perguntar isso? Se vim até aqui?
A minha justificação é idiota? Concordo. Mas queria testar a sua validade.

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