Estávamos no início de Junho, mas o tempo era ainda incerto. Por isso usávamos camisolas de malha sobre as camisas. (Lembro-me bem da tua camisola azul-escura, da camisa branca. Os ténis, deliciosos, eram verdes.)
O refeitório por essa altura era já pouco frequentado, ainda menos àquela hora adiantada, e estávamos sentados perto da janela. A avenida era um rio correndo a nossos pés, os farrapos cor de cinza que iam preenchendo o céu rendilhavam a luz solar. Era início de Junho e por isso tão fácil de fazer da realidade o que quiséssemos. Só porque a ordem do mundo permitira aquele encontro. E eu ali óbvio.
- Queres uma batata frita?
E chegaste o prato sorrindo. Naquela batata mal frita eu via o sentido de tanta coisa, a explicação da metade do mundo que me estava sendo ocultada.
Mas se o tempo era ainda incerto - e aqui reside a questão essencial desta história - antes chovesse. Se havia alguma ordem no mundo, que se juntassem as nuvens que faltavam para que chovesse. Porque mais valia que chovesse e que a tua malha azul ficasse coberta de pequenas manchas. E que eu não estivesse no sítio onde estava, à espera de te ver passar.
(Põe tu aqui um insulto, que eu não consigo.)