terça-feira, 13 de janeiro de 2009

C'est en vous que j'ai foi, parlez pour moi

Os bilhetes há muito guardados lá saíram da gaveta.
Por onde começar? Ah sim, detesto assinantes nascidos antes de 1940 que passam os intervalos a cortar na produção moderna mesmo ao meu lado.
Aliás, eu até gostei da interpretação à década de 70 e de alguns aspectos mais "fortes". O Faust a tirar a camisa era dispensável, mas a Marguerite a matar o filho em cena e o regresso de um Wagner completamente mutilado da guerra não eram de todo absurdos.
O acto do jardim deixou-me deveras encantado. O ambiente nocturno de quintal de bloco de apartamentos foi muito bem conseguido e gostei como nesse momento a ópera foi posta a um nível bastante terreno e realista sem perder o charme ou a dignidade, o que me agradou. É possível a Marguerite cantar a balada do rei de Thulé enquanto muda uma planta de vaso.
Acho que a minha opinião quanto a este acto mudou. A música e o intimismo da sucessão perfeita de cenas com poucas personagens convenceram-me. Por outro lado, os coros que abrem e fecham o segundo acto não me arrebataram como eu esperava. Gostei dos momentos de freeze
do primeiro deles.
O Siébel, essa personagem que eu tanto queria conhecer em carne e osso, estava simplesmente adorável com aquele andar desajeitado dentro de um fato largo aos quadrados. A cantora conseguiu dar-lhe toda a inocência de um rapaz apaixonado na canção das flores.
Tive pena de que o cenário que representava uma sala enorme servisse para vários espaços, às vezes dificultava a percepção do local em questão. Cenas como a do regresso dos soldados ou a da igreja estavam geniais, parecendo até na primeira que fazia parte daquilo.
O elenco agradou, sobretudo a limpidez do par romântico. Ainda poderia falar de uma série de coisas, mas o jardim, esse, seduziu-me...

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo com tudissimo! Ainda bem que referiste a mutilação que foi evidente e chocante para todos mas que te passou ao lado! Assinantes pre 1940 precisavam de uma lufada de ar fresco e acho que o segundo acto os arrebatou! Mesmo os mais teimosos esfregadores de pernas...