Os bilhetes há muito guardados lá saíram da gaveta.
Por onde começar? Ah sim, detesto assinantes nascidos antes de 1940 que passam os intervalos a cortar na produção moderna mesmo ao meu lado.
Aliás, eu até gostei da interpretação à década de 70 e de alguns aspectos mais "fortes". O Faust a tirar a camisa era dispensável, mas a Marguerite a matar o filho em cena e o regresso de um Wagner completamente mutilado da guerra não eram de todo absurdos.
O acto do jardim deixou-me deveras encantado. O ambiente nocturno de quintal de bloco de apartamentos foi muito bem conseguido e gostei como nesse momento a ópera foi posta a um nível bastante terreno e realista sem perder o charme ou a dignidade, o que me agradou. É possível a Marguerite cantar a balada do rei de Thulé enquanto muda uma planta de vaso.
Acho que a minha opinião quanto a este acto mudou. A música e o intimismo da sucessão perfeita de cenas com poucas personagens convenceram-me. Por outro lado, os coros que abrem e fecham o segundo acto não me arrebataram como eu esperava. Gostei dos momentos de freeze do primeiro deles.
O Siébel, essa personagem que eu tanto queria conhecer em carne e osso, estava simplesmente adorável com aquele andar desajeitado dentro de um fato largo aos quadrados. A cantora conseguiu dar-lhe toda a inocência de um rapaz apaixonado na canção das flores.
Tive pena de que o cenário que representava uma sala enorme servisse para vários espaços, às vezes dificultava a percepção do local em questão. Cenas como a do regresso dos soldados ou a da igreja estavam geniais, parecendo até na primeira que fazia parte daquilo.
O elenco agradou, sobretudo a limpidez do par romântico. Ainda poderia falar de uma série de coisas, mas o jardim, esse, seduziu-me...