segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Margarida ao fim da tarde

É sabido que à hora em que terminam as aulas, pouco apetece fazer. Especialmente se escurece cedo.
Nessa hora que antecedia o crepúsculo e em que Margarida se via enfim livre, apetecia-lhe sentir um pouco de vida que fosse. O vento frio e os automóveis que passavam.
Em certos dias, Margarida fazia um pequeno desvio para regressar a casa. Passava pelos campos desportivos.
Enfiada no seu casacão e acendendo o cigarro num movimento estudado, Margarida enveredava pelo estádio, passando ao longo dos campos onde àquela hora pré-crepuscular, os homens corriam e gritavam. E Margarida passava, num passo lânguido, largando femininas baforadas de fumo.
De vez em quando, lançava um olhar daqueles pouco óbvio ao campo para verificar o efeito. E claro, não se enganava, eles iam olhando para ela.
Era o seu pequeno prazer, daqueles que não revelava a ninguém. Passar por ali àquela hora em que pouco apetece fazer e sentir que despertava a atenção naqueles homens suados e excitados, que a olhavam passando no seu casacão, os cabelos bem-tratados e o cigarro desinteressado, que desprezavam por momentos o jogo.
Arrefecia e eles estavam tão quentes. E ela passando - não mais do que isso -, gozando o papel soberano que naqueles momentos tinha.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ai essa Margarida! Faz-me lembrar uma Margarida que conheço, também com um casacão e soprando baforadas de fumo do seu cigarro...