segunda-feira, 24 de maio de 2010

Estudo sobre Gonçalo: o início

O início tem a sua beleza. Tanta quanto o brilho das iluminações no palacete do visconde de Lavínios, naquela noite palco de festa.
Já sabemos que depois de ter deixado a tia num quarto escuso, numa tentativa meio parva que o pai engendrara para a manter afastada da festa, Leonor entrou nos salões.
Sabemos que o primeiro contacto foi com o olhar. Já Agustina disse que é ele quem primeiro peca, nada de novo.
A novidade estava naquele rosto que Leonor achou admiravelmente belo. E os olhos... tão vivos. Falaram, ele foi afoito o suficiente para que tal acontecesse, mas não disseram os nomes.
Por isso, na manhã seguinte, após ter longamente divagado na saleta - onde o irmão dissertava sobre a beleza da rainha, a idade da rainha, a tragédia da rainha - lembrou-se de consultar a criada Doroteia.
Foi naquela manhã em que envergava o vestido de padrão florido. Quem era? Sim, cabelo escuro e digna barba... Doroteia levou uma semana até se aperceber de que o tal jovem era filho do Alves e costumava cruzar-se com ele quando ia ao mercado. Claro que sabia identificá-lo. Ela própria andava rendida àquele olhar tão profundo, àquela barba tão digna. Para não falar no sorriso, cuja adjectivação extraída directamente do vocabulário de Doroteia, nos escusamos de reproduzir aqui.

Sem comentários: