sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O quarto branco

O quarto era branco e bonito de tão simples, nem sei como o deixavam assim para um convidado. O cheiro adocicado e áspero da colcha enchia a divisão. A janelinha dava para o alpendre e via-se lá em baixo o rectângulo faiscante da piscina. Em volta só a terra e as árvores.
Tinha sido naquele quarto que uma das mulheres da família trouxera ao mundo uma das outras, algumas décadas antes. Será que o aroma que a recém-nascida sentiu era já aquele misto de madeira e sabão?
Da janela alguém gritou para avisar Branca que andava pela horta, décadas antes de existir naquele local a piscina. Branca era a criadita que um dia morreria de amor por um rapaz de quinta não muito distante. Por razões um tanto ou quanto obscuras um dia fizera-se ao caminho para ser encontrada morta na planície, que nem Mireille. Uma história fascinante e sórdida o suficiente.
E o local que a criada pisara tinha agora uma piscina azul.
Mas no dia do nascimento a rapariga não sabia ainda que estava para ser uma versão alentejana da provençal. A mim deliciava-me o cheiro do quarto.

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