domingo, 18 de outubro de 2009

O baile do governador II

Estou eu a dizer-lhe, o tenente Zeferino era uma pessoa complicada. E não sou a única a achar isso. Vá lá, até o outro tenente - não me lembro do nome - o dizia.
Que era muito bem-parecido, uma lufada de ar fresco nesta cidade, lá isso era. E naquela noite do baile do governador civil... Um verdadeiro príncipe em uniforme de gala. Não me vai dizer que também não achou isso, aqueles cabelos tão apetitosos que pareciam trigo?
Mas também tinha as suas manias, garanto-lhe.
No quartel tinha ao seu dispor duas salas... E ficava horas lá fechado. A pensar, a pensar. Parece que gostava de ficar a ver o pôr-do-sol da janela, quando ficava tudo tão laranja à maneira de uma explosão de tépida felicidade. Sim, depois do quartel começa a planície, pode calcular como era largo e laranja o cenário, tanto o que a vista dele podia observar enquanto pensava. Em quê não sei ao certo. Mas ele era tão bonito, que quase nem importa. Imagine-o só, ali muito parado, muito sério, com aquele olhar muito azul e aquele bigode muito loiro. E tente só retratá-lo nessas meditações alaranjadas envergando aquele uniforme tão luzidio da noite do baile.
Pois, não é preciso dizer mais nada.

1 comentário:

Luísa A. disse...

Ainda bem que só vim aqui hoje porque logo o primeiro post (a primeira frase) deixa imensa curiosidade. Só pra começar estou a adorar a descrição. E quero saber quem fala...