quarta-feira, 29 de abril de 2009

Morceau da casa da praia

Catarina Ofélia deixava-se ficar estendida, enquanto Sebastião lhe falava na sala. A luz que entrava pelas janelas, o cheiro da praia por todo o lado. Estou a vê-los, ela encostada a ele, olhando não sei bem o quê. Ele a falar, a falar. Ao longe... o ruído do mar. Sebastião gostaria de saber em que pensava ela. Fascinava-o, frustrava-o. Por isso lhe falava: por não saber controlar o fascínio, por querer ultrapassar a frustração. Ouve-se a voz de Sebastião que lhe fala, que lhe fala.
E ela, muito quieta, muito calada, os olhos abertos. Feita visionária.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

25 de Abril em retalhos

Na manhã do dia 25 de Abril de 1974, a minha mãe acordou, fez o que fazia todos os dias, saiu de casa. Ao chegar ao liceu, foi-lhe dito que voltasse para casa.
Os colegas, os da turma A, vieram a desaparecer. Tinham fugido para o Brasil.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

escrever, escrever

Gostava de escrever um texto. Um texto onde juntasse vários elementos, as várias coisas que vou vendo, ouvindo e pensando. Vejo-as, ouço-as, penso-as e quero registá-las.
O Carlitos que, em toda a sua chico-espertice, aparece no final de conferências a que não foi para meter os dedos aos bolinhos do pseudo-catering (e a Clarinha Guimarães a dizer que os cabelitos espetados no alto da cabeça lhe dão "muita graça"). A Menina L. que é tão simpática, ainda que não pareça. A professora a dizer "podes aproveitar que ele está a tocar a escala de sol maior".
Estou agora a imaginar uma conversa entre estas personagens e a imaginar o nosso Carlitos ser alvo de um franzir de sobrancelha geral. Sobretudo se falasse no preço das bolachas.
As Avenidas Novas são um bom sítio para um cair de noite a prenunciar o Estio.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Post incompleto

E o jantar? E o jantar? Os intelectos em alta e o cair da noite tão agradável.

domingo, 19 de abril de 2009

Jornal diário

Olhou para o jornal e leu a data. A data lembrou-lhe a mãe, que faria anos nesse dia (se fosse viva). Lembrou-se depois que o aniversário da irmã tinha sido no dia anterior. Ligou-lhe então.
Não foi o único. Também outros deram os parabéns à filha no dia da mãe.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

La vérité sur les colonies

Não quero que esteja um sol apetecível enquanto eu tenho de estar a ler coisas (lá dentro) sobre o Portugal ultramarino dos séculos XVI e XX. Não quero.
Ouçamos o segundo acto da Lakmé para nos inspirarmos.
As persianas descem às 17h, com aquele ruidinho.

"C'est Mrs. Bentson, qu'avez-vous ?"
(Rose e Frédéric na ópera Lakmé, acto II)

João e Luísa

(Baseado em factos verídicos)

Luísa ali está. Não fica indiferente ao olhar de João que a fixa. João que tem um rosto agradável, apesar do nariz um pouco à koala, que tem pêlos de barba escura semeada pelas faces brancas. Acima de tudo, João que tem olhos azuis, de um azul gélido. Olhos que fixam. E Luísa ali, a sentir-se olhada. E a gostar.

Sabe que apesar de um pouco perturbador, gosta. Mesmo que ele não lhe fale, apenas a olhe, a fixe. Não dizem que falamos pelo olhar? Talvez melhor que pelas palavras?
Vários pensamentos que lhe passam pela cabeça, agora que dá por si a gostar do olhar azul que João lhe deita com alguma insistência. A gostar desse olhar e a admiti-lo para si própria.
Pensamentos bonitos. Quem não gosta de os ter? Pensamentos azuis que metem um sorriso (onde cabem todos os adjectivos que signifiquem algo de bom, algo de muito bom) rodeado de pêlos de barba escura. Não basta um olhar para nos perdermos? Isto pensa Luísa naquela sala em festa, onde não muito longe dela está João de olhos azuis. Azul-que-faz-Luísa-sonhar.
E aproxima-se Gustavo. Gustavo. Ao aproximar-se Gustavo, Luísa lembra-se porque nunca aquele olhar azul poderia ser mais do que um olhar. Pelo menos para ela.

Soubera bem a ilusão, tem de admiti-lo.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

11 Lisboa

Sento ou não sento? Porquê? Penso numa série de hipóteses enquanto olhava as árvores e o alcatrão. Estava sol.
E depois, nova interrogação. "Bem, até logo!" Queria deixar-me ficar para trás. Para falar, perguntar qualquer coisa. Teria por onde começar. E mesmo que não soubesse o que dizer, diria. Apetecia-me dizer.
Algo que não fosse "bem, até logo".